Relógio da Apple não é para os iniciantes no mundo digital Como todo produto que é o primeiro de sua geração, ele apresenta erros e limitações
Farhad Manjoo-Nova York, EUA. Foram três longos – e muitas vezes confusos e frustrantes – dias para eu me apaixonar pelo Apple Watch. Só que depois que me apaixonei, o sentimento foi forte. O primeiro dia foi gasto para conhecer a interface inicialmente complexa. Depois, mais um dia para determinar a melhor maneira de o aparelho se adequar à minha vida. E mais um para entender exatamente o que faz o primeiro grande novo produto da fabricante em cinco anos – e, crucialmente, o que ele não é.
Foi somente no quarto dia que eu comecei a apreciar as formas pelas quais o elegante computador de US$ 650 no meu pulso era mais do que apenas outra tela. Ao me notificar a respeito de eventos digitais assim que ocorriam, e me deixar reagir a eles instantaneamente, sem ter de me atrapalhar com meu telefone, o relógio se tornou algo como uma extensão natural do meu corpo – um vínculo direto, como nunca senti antes, do mundo digital ao meu cérebro. O efeito foi tão poderoso que as pessoas que já haviam comentado sobre meu vício com o smartphone começaram a notar uma mudança no meu comportamento. Para minha mulher, foi uma bênção.
O Apple Watch está longe de ser perfeito e, com preços começando em US$ 350 (R$ 1.050) e indo até os US$ 17 mil (R$ 51 mil), ele não é barato. Embora pareça bastante inteligente, com uma seleção de pulseiras estilosas de couro e metal que representam uma clara distinção da maioria dos dispositivos de vestir, o relógio funciona como um aparelho de primeira geração, com todas as limitações e erros esperados de uma tecnologia nova em folha.
Além disso, ao contrário de produtos revolucionários anteriores da fabricante, o programa do relógio exige uma curva de aprendizado que pode afastar algumas pessoas. Existe uma boa chance de que ele não funcione perfeitamente para a maioria dos consumidores assim que sair da caixa, porque o relógio fica melhor depois que se fuçam suas várias configurações para personalizar o uso.
Em um grau incomum para um novo equipamento da Apple, o relógio não é para novatos da informática. Ele foi projetado para pessoas cuja vida é inundada por notificações vindas de seus telefones e para quem se preocupa e quer tentar administrar a maneira pela qual o mundo digital invade suas vidas.
O recurso mais engenhoso é seu “motor taptic”, o alerta de diferentes notificações digitais produzindo vibrações silenciosas de vários padrões distintos no pulso. À medida que se aprende as vibrações ao longo do tempo, você começará a registrar algumas de forma quase inconsciente.
Mas o relógio não é um iPhone no pulso. Ele tem um conjunto diferente de mecanismos de entrada de dados – temos a coroa digital, um botão usado para rodar a tela e dar zoom, e uma tela sensível ao toque que pode ser pressionada com mais força para se chegar às opções extras. Não existe teclado completo na tela, assim as mensagens enviadas estão confinadas a um conjunto de respostas padrão, emojis e, quando se estiver falando com outros usuários do Watch, mensagens que podem ser desenhadas.
Aplicativos de terceiros ainda são problema, mas usei o relógio para pagamentos em táxis de Nova York e nos supermercados Whole Foods, e para apresentar o cartão de embarque no aeroporto. Quando esses encontros funcionavam, era como ter uma chave mágica para destravar o mundo bem ali no meu braço. O mais empolgante no Watch, ao contrário de outros relógios inteligentes que já experimentei, é a forma pela qual ele confere ao usuário uma sensação geral de capacitação.
Se o Google trouxe o mundo da informação digital aos nossos computadores e o iPhone nos levou a todos os lugares, o Watch constrói o mundo digital diretamente em sua pele. Demora um tempo para se acostumar com ele, mas, quando isso ocorre, é um poder sem o qual não dá mais para viver.